Torta de Feijão Macassar | História com Comida
Nessa História com Comida eu compartilho a receita do mês, o prato que eu me delicioso escrevendo com o ingrediente do mês. Nessa minha fabulação, todo o mês vou escrever sobre um ingrediente que faz parte da minha história, do meu repertório culinário e da nossa cultura alimentar.
Torta de Feijão Macassar (Feijão Fradinho)
Antes de começarmos essa receita não é minha, “pertence” a uma pessoa incrível que a jornada pra casa me apresentou. Akuenda da Coletiva Dhuzati, me presenteou com essa negra porção e me ensinou um pouco mais desse feijão que nos leva de volta pra casa do outro lado do atlântico.
Caso você não saiba, eu sou gaúcha e no sul do sul global a presença negra quase foi extinta e quando não extinta foi apagada, o que faz desse caminho de volta quase um labirinto. Por aqui não temos feijão macassar no nosso feijão e arroz, o que prevalece é o feijão preto, no máximo o feijão vermelho ou o carioca e a feijoada perde para o churrasco no domingo.
O estereótipo de comida negra, de culinária afro-brasileira que eu aprendi foi o da Baiana do Acarajé, logo o acarajé é o mais exótico e incomum prato que você quase não vai encontrar no sul.
Eu só conheço duas pessoas em Porto Alegre/RS que fazem o acarajé legítimo e como eu nunca fui na Bahia (me aguarde que eu tô chegando) para provar, eu me vejo com olhos e boca fechados, ou seja, sem referência de paladar para tal gostosura. Caso não saiba, o bolinho do acarajé é feito com feijão fradinho.
Ao me deparar com a receita da Akuenda eu senti muita vontade de provar, até porque não é assim pra fazer acarajé não, pois ele é antes de tudo comida de santo, de terreiro. E como comida de santo tem o seu sentido, modo de fazer diferente do que a gente imagina e há um propósito diferente. A torta de feijão macassar me deu a possibilidade de me reencontrar com esse sabor, com essa textura e perceber principalmente meu corpo e meu espírito se reconectando com algo ancestral. Outro reencontro foi com o dendê, que por muitos anos tive medo, porque o apagamento histórico e o racismo somado a um clima frio não permitem o dendezeiro se estabelecer aqui. Sempre ouvi dizer que dendê (óleo de palma) era forte, dava piriri, e que a comida baiana era pesada, gordurosa.
O processo
Foram dois dias de molho e remolho, pois quanto mais tempo na água o grão recupera sua energia e germina. Eu não tirei a casca de preguiça, bati no liquidificador como mostra no vídeo, untei bem o refratário de vidro, espalhei bastante farinha de mandioca. Lá foi uma parte da massa, o recheio foi o refogado de coração de bananeira que havia feito alguns dias antes (o coração mangará ganhei do vizinho), completei com o restante de massa e assei. O mais importante é polvilhar (quase redundante) com farinha de mandioca por cima para ficar bem crocante.
O cheiro é algo que me transporta a um lugar que eu não sei dizer. Acabo comendo sempre no café da manhã, quase numa tentativa de banir o café com leite e pão com manteiga das minhas referências. (sou vegetariana gente, calma que quando tem leite é de coco e eu não gosto de manteigas vegetais ultraprocessadas e com cheiro sabor de manteiga, prefiro azeite de oliva mesmo, e pão da minha mãe obviamente).
Além da torta, te convido a fermentar essa massa de feijão. História para um outro momento. Vamos a receita da torta de feijão macassar, disponível no vídeo da série Empretecendo a Cozinha. As outras dicas de conteúdo estão na news completa (seja apoiador pra acesar conteúdo completo ;D)

Torta de Feijão Macassar
Ingredientes
2 xícaras de Feijão Fradinho hidratado
1 Cebola
Óleo Vegetal
Recheio da sua preferência
Farinha de Mandioca
Sal a gosto
Tempero a gosto
Modo de Preparo
Deixe o feijão de molho pelo menos 8h, depois descarte a água e leve os grãos para o liquidificador. No liquidificador acrescente ao feijão a cebola cortada grosseiramente, sal, e óleo vegetal, mais ou menos meia xícara. Por fim acrescente um pouco de água para bater, o suficiente para cobrir o grão. Bata na velocidade “pulsar” para desmanchar um pouco e depois na velocidade mais alta. Pode ficar mais pedaçudo, não é necessário desmanchar os grãos. Prove o sal e corrija se necessário.
Pré aqueça o forno em 200ºC por 15 minutos, enquanto isso unte a forma com óleo e espalhe farinha de mandioca crua no fundo e nas laterais. Distribua metade da massa, espalhe o recheio delicadamente por cima e em seguida cubra com o restante da massa. Antes de levar ao forno espalhe mais farinha de mandioca por cima e leve para assar. Asse por 30-40 minutos até que fique dourada e bem assada. Eu prefiro esperar esfriar um pouco antes de comer.
Na foto eu comi minha fatia com salada. Experimente como você desejar