Quibebe de Abóbora do meu pai e da minha avó | História com Comida
História com comida é um nome comum de um capítulo à parte deste bate papo. Adornar a cozinha com abóboras de todos os tamanhos, cores e sabores. Cabotiá, Mogango, Paulista, Menina, e a de pescoço que eu mais adoro. Rajadas em tons de verde e amarelo, ou ainda num laranja profundo e vivo, ou o verde escuro. O quibebe de abóbora é um uma encruzilhada, um encontro de gerações, uma ponte entre um estado e outro, entre um continente e outro.
História com comida são colheradas do que os apoiadores recebem, numa forma de democratizar a cozinha e que todes possam sentir e experimentar receitas que fazem parte da nossa cultura culinária e nesse ativar ancestral possam sentir um dengo em forma de comida.
Quibebe de Abóbora
Quibebe, Kibebê é uma preparação afroindígena que está presente em boa parte do Brasil. Feito a partir de abóbora, no sul fazemos com abóbora de pescoço (usando a parte do pescoço mesmo) mas tem suas variações conforme a geografia de cada lugar.
Eu me recordo do quibebe desde sempre, via minhas avós fazendo e tinha algo mágico nele. Talvez o sabor agridoce, talvez a textura. O quibebe também foi o jeito de me conectar com meu pai, principalmente quando fui estudar gastronomia. Nessa época eu estava sedenta por referências negras na minha vida, e um não lugar aparecia pra mim constantemente e foi na cozinha um lugar que eu me encontrei e me conectei com partes de mim que eu não entendia.
Desde que entrei na faculdade de gastronomia eu sentia falta de ter referências negras na gastronomia
Ainda hoje eu sinto falta de ver livros com receitas que representassem a cultura gaúcha preta. Temos livros famosos sobre culinária brasileira, mas ainda as referências de culinária afro-brasileira se resumem a acarajé, dendê e a Salvador.
O Quibebe é meio-irmão do vatapá e do angu, do pirão.
Esses co-irmãos fazem parte de um repertório que precisa de abóbora e farinha de mandioca, elementos tão importantes da culinária brasileira. Aqui no sul o quibebe está presente na culinária de terreiros, nos quilombos e faz parte de um estereótipo de culinária gaúcha, ainda que não tenha seu crédito dado às comunidades negras do estado
Ainda na faculdade fui atrás dessas referências e tive que “bater pé” na academia e me convenci que falaria do quibebe mesmo sem ter as referências acadêmicas de fato. Me baseei na sabedoria das minhas avós e do meu pai, sabendo que eles comem quibebe desde sempre e esse saber passa de geração em geração. Por isso que o quibebe tem tanto valor pra mim. Ele é um sabor que me lembra de casa.
Quibebe me lembra do pirão, que me deixa quente. Nós utilizamos muito as abóboras por aqui e os doces de abóbora em calda são tradições da doceria do sul. São processos que só os mais antigos conhecem, como deixar a abóbora cortada em cubos na Cal virgem e cozinhar em tachos no fogão à lenha. No inverno, ao redor do fogão a lenha, ou penduradas pela cozinha é onde ficam as morangas, mogangos e abóboras de todas as cores e sabores.

Quibebe de Abóbora do meu pai e da minha avó
Ingredientes
2 xícaras de abóbora cozida
½ cebola cortada em cubos
2 dentes de alho picados
1 xícara de farinha de milho média
Pitada de sal
Pitada de açúcar
Modo de preparo
Eu gosto de usar o pescoço da abóbora (o corpo você faz doce), cozinho na água e deixo bem macia. Reverso a abóbora e guardo um pouco de água também. Numa panela eu frito bem o alho e a cebola e adiciono a abóbora amassada, pode ter um pedacinhos, bem rústico. Misturo bem e aos poucos acrescente a farinha de milho, sempre mexendo. Aqui é a hora de fazer um pirão, que pode ser mais firme ou mais mole. Mexa bem e deixe cozinhar tempo suficiente para cozer a farinha Por fim, tempere com sal e um pouco de açúcar, o ideal é um sabor agridoce.
Eu particularmente gosto de comer puro, mas acompanha muito bem um molho de casca de banana e farofa, ou legumes refogados.