Kwanzaa | Celebrando nossas origens
Confesso que não sou entusiasta das celebrações de Natal e Ano Novo. Não sofro de dezembrite, mas em determinado momento da minha vida, o Natal perdeu o sentido para mim. Felizmente, durante minha busca por referências africanas e ancestrais, descobri o Kwanzaa, uma celebração panafricanista que traz tradições ancestrais para celebrar nossas origens nesta época do ano. Neste texto, compartilho um pouco sobre o Kwanzaa, seus princípios e suas conexões culinárias com ingredientes afro-brasileiros em uma série de receitas.

“Primeiros Frutos”
Kwanzaa, que em Swahili significa “Primeiros Frutos”, tem suas raízes na expressão “matunda ya kwanza” e representa uma celebração cultural panafricana originada nos Estados Unidos na década de 1960. O professor Dr. Maulana Karenga foi o idealizador dessa festividade, com a intenção de aproximar a comunidade negra norte-americana de suas origens africanas, destacando valores como união, responsabilidade e a preservação da cultura dos antepassados africanos.
Durante os dias que se estendem de 26 de dezembro a 1º de janeiro, velas são acesas, e um altar é montado com símbolos e tradições associadas aos Nguzo Saba, os sete princípios fundamentais desta celebração. Apesar de ocorrer entre o Natal e o Ano Novo, cujas origens remontam ao cristianismo, é importante salientar que o Kwanzaa não possui conotação religiosa; sua essência é eminentemente CULTURAL.
Confira abaixo alguns dos elementos presentes no Kwanzaa

Para celebrar os 7 dias de Kwanzaa alguns símbolos são importantes:
Cada noite é dedicada à celebração de um princípio específico, concentrando-se em atividades que refletem sobre o tema do dia. As celebrações incluem a audição de músicas, a leitura de poesias, histórias, lendas e itans que exploram esse princípio.
A esteira, conhecida como Mkeka (M-kay-cah), assume o papel crucial de representar a base das tradições africanas e da história. Comumente confeccionada de palha, tecido ou papel, ela serve como o suporte fundamental para dispor todos os outros símbolos do Kwanzaa.
E justamente nessa esteira que as safras, frutas, vegetais e plantas, reunidos na tigela designada como Mazao (Maah-zow), ganham significado ao simbolizar as celebrações da colheita africanas. Seu objetivo é expressar respeito pelos dedicados cultivadores.
Simultaneamente, o Kinara (Kee-nah-rah), candelabro de sete suportes, assume posição central na mesa, representando a origem ancestral de todas as pessoas da África e, assim, simbolizando a fundação histórica.
Além disso as sete velas, identificadas como Mishumaa (Mee-shoo-maah), representam cada um dos sete princípios. A vela preta, iluminada no primeiro dia, simboliza o povo africano; três velas vermelhas, a luta do povo africano; e três velas verdes, a esperança.
Do mesmo modo, o milho, denominado Muhindi (Moo-heen-dee), carrega consigo o simbolismo das crianças africanas e sua promessa de um futuro próspero. Por conta disso, cada espiga é dedicada a uma criança da família, e em famílias sem crianças, uma espiga é colocada simbolicamente para representar as crianças da comunidade.
Ao mesmo tempo a taça, copo ou recipiente, designado como Kikombe cha Umoja (Kee-com-bay chah-oo-moe-jah), tem um papel simbólico vital ao representar o primeiro princípio do Kwanzaa: a união da família e do povo africano. E nesse sentido utilizado para derramar a libação (água, suco ou vinho), onde é um símbolo tangível dessa união para a família e amigos.
Bem como os presentes, chamados Zawadi (Sah-wah-dee), que refletem o esforço dos pais e mães, sendo uma recompensa valiosa para seus filhos. Esses presentes, que podem ser um livro, obra de arte ou brinquedo educativo, desempenham um papel crucial na educação e enriquecimento das crianças, representando pelo menos um deles a herança africana.
Na última noite, a celebração atinge o ápice com o Kwanzaa Karamu, um jantar que transcende a mera alimentação, tornando-se um fórum de expressão cultural completo com música, dança e leitura.

Novas referências
Esse texto, Celebrando nossas Origens fez parte do ebook com o mesmo nome lançado ano passado para o projeto Cozinhe sua História. O livro trouxe a festividade do Kwanza pensando na ancestralidade africana e afro diaspórica e na cultura alimentar que conecta o Brasil ao continente Africano.
Conheci sobre Kwanzaa através do Movimento Afro Vegano (MAV), dos textos da Caroline Costa do Cozinha e Ginga (@cozinhaeginga) e da pesquisadora e professora Aza Njeri. No seu canal no youtube tem vários vídeos que falam sobre a celebração. Recomendo muito que você assista para saber mais sobre esta celebração.
Além de apresentar o Kwanzaa e seus princípios também quero compartilhar ingredientes e receitas que vão nos acompanhar nesses ultimos dias do ano. Confira os 7 princpicios do Kwanza e os 7 ingredientes escolhidos no texto “Os sete princípios do Kwanzaa e seus ingredientes”. Nos próximos dias vou postar as 7 receitas aqui no blog. Pra não perder nada, segue o perfil no instagram @natiescouto_
Referências do texto:
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Disponível em http://crioula.net/2021/09/1855/
BEZERRA. R. Comer E Beber Com Maria Firmina Dos Reis: Um Banquete Africano. 2018
BLOG ABAIOMY JURISTAS NEGRAS. “KWANZAA – o final de ano afrodiaspórico panafricano. Disponível em https://www.abayomijuristasnegras.com.br/post/kwanzaa-o-final-de-ano-afrodiasp%C3%B3rico-panafricano
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MACEDO. J.R. História da África. Editora Contexto. São Paulo, 2013
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NJERI, A. Como celebrar o Kwanzaa. Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=vvrWXfmFAm8&list=WL&index=8
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QUERINO, M. A Arte Culinária da Bahia
TRAMMELL, K. A non-black person’s guide to Kwanzaa. Disponível em https://edition.cnn.com/2017/12/26/us/kwanzaa-explainer-trnd/index.html
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Imagens:
Imagem de destaque: https://oempregoeseu.com/2020/12/17/kwanzaa-o-que-celebra/
Imagem Mazao (Maah-zow) https://www.tasteofhome.com/article/might-not-know-about-kwanzaa/?epik=dj0yJnU9Z0k1Q1NVQVltY1gzY1FCSFd6NVNsLUR3VDhjYklocVAmcD0wJm49TlZKWldQSjZfTlFISDRaZ2wxaDFUQSZ0PUFBQUFBR1Y3Qmc0
Imagem mesa de jantar: https://ideas.hallmark.com/articles/kwanzaa-ideas/what-is-kwanzaa/?epik=dj0yJnU9LXE3QXU3UW5kV3lzZU5vbzEtZjZLV21rQl9Ha2xRdnQmcD0wJm49bVNjUzM4QWhqNDRkRGFJdDFHZDl3QSZ0PUFBQUFBR1Y3QnZV
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Eu sempre goste de ler sobre essa época. É muito revigorante. Obrigado por mais um texto especial.
Fico feliz que tenha gostado! É revigorante mesmo, apesar de não conseguir trocar o natal cristão pelo Kwanzaa com a minha família já me sinto feliz de reconectar com essa tradição. E volte sempre que vão ter receitas especiais para esses sete dias de celebração!