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Geléia de Fruta de Ora Pró Nobis | História com Comida

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Geléia de Fruta de Ora Pró Nóbis | História com Comida


História com comida é um nome comum de um capítulo à parte deste bate papo. Rogai por nós porque não somos pecadores. Nós fomos sequestrados e desumanizados e por isso esquecemos quem somos e como cuidar de nós mesmos. Ora pro nobis, Orai por nós, Lobrodó, Orabrodó nos abençoe, nos alimente e nos dê forças. Axé 

História com comida é a parte saborosa da newsletter que eu envio para os apoiadores desta Cozinha. Eu compartilho aqui essa colherada na tentativa de fazê-los salivarem e convidá-los a apoiar também a campanha Cozinhe sua História e serem a farinha da minha sustânça. Se tu gosta de ler sobre alimentação, ancestralidade, cultura, e comida, vem conhecer esse trabalho. Saboroso.

Minha História com o Ora Pró Nóbis

Em 2020, escrevi na minha antiga newsletter que “Carne de Plata é Ora Pró Nóbis”, isso porque na época estava “estreando” nos supermercados mais uma marca de “carne de planta”, aquelas que são feitas a partir de proteínas como soja, ervilha, grão de bico e imitam a carne animal no sabor e na textura. Naquele momento eu fiquei fula da vida com o fato, porque é super possível falar de culinária vegetal sem precisar reforçar o consumo de carne e por isso conversamos também sobre o ora pro nóbis e as panc.

 Tema esse que eu resgato nessa história. 

É real gente, Ora Pro Nóbis é uma planta que é popularmente conhecida como carne de planta. Cientificamente já temos estudos que mostram o quanto ela é proteica e nutritiva e  por conta disso, nos últimos tempos as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) além dos usos farmacológicos e nutricionais, elas também estão em alta na gastronomia. Você já percebeu que nos últimos anos, pudemos encontrar inúmeras matérias na internet e em programas jornalísticos na tv e na internet sobre como o Ora Pro Nóbis é nutritivo, como ele pode ser utilizado de várias formas em pães, doces, salgados, e mil e uma preparações?!

Esse aspecto nutricional, proteico,  é ressaltado, e até certo ponto ok, mas precisamos ficar atentos que nunca, nunquinha ora pro nóbis vai ser carne.

E vocês já se perguntaram que talvez esse adjetivo “carne de pobre” seja pejorativo? Como contei melhor na newsletter de setembro (seja um apoiador para ter acesso a todas as newsletter), meu primeiro contato com as panc foi de uma maneira que me deixou um tanto triste, e me fez não gostar de panc no primeiro momento. De uma maneira acadêmica, muito pautada no nutricional e zero conectada com a minha realidade. Na minha cabeça eu achei que só iria encontrar panc em lugares caros e diretamente com os agricultores, totalmente o extremo do que as panc são. 

Pois bem, voltamos ao ora pro nóbis.

Ora pró Nobis é nativa aqui das américas e tem nomes como “ramo de noiva” em Cuba, “Guamacho” na Venezuela e “bugambilia” no México. Como é uma trepadeira, é um arbusto que é muito usado como cerca viva por conta dos seus espinhos, e cheia de flor e frutinhas também embeleza qualquer lugar. Ela é uma guerreira, sobrevivente, resistente, rústica, cresce em qualquer lugar. 

No verão minha mãe podou a Ora Pró Nóbis  da casa dela e eu peguei dois galhos para plantar aqui na casa do meu pai. Deixei na água por alguns dias e logo aproveitei a lua nova para plantar. Desde março ela está linda e enorme. Volta e meia eu uso pra fazer sucos, ou no arroz, ou na salada. Logo depois que plantei, a faxineira aqui de casa me perguntou curiosa se a mudinha que eu mantinha na água era a “orapronoz”, eu demorei pra me dar conta.  Quando confirmei ela ficou feliz da vida e me contou como ela consumia muito essa planta na infância e como era muito boa pra saúde. Acabei dando a segunda muda pra ela, depois de tudo que ela me contou, fiquei grata pelos ensinamentos. 

Sempre que eu converso com os mais velhos, muitos contam que consumiam ora pro nóbis, que era feita cozida junto com carnes, legumes e outras preparações. Ou ainda como faziam remédios com ora pro nóbis e outras plantas. 

Não perca tempo de conversar com os seus mais velhos, eles têm muito conhecimento, pergunte!

 As Panc apesar de catalogadas a pouco tempo fazem parte da nossa cultura alimentar, nutricional e medicinal também. E por isso as panc precisam de comunicadores que comuniquem o que elas realmente significam, conectadas com a nossa ancestralidade, com a soberania e segurança alimentar que necessitamos e não a alta gastronomia glamourizando  e inviabilizando as origens e usos das panc.

Antes de compartilhar a receita eu trago um trabalho lindo da Manga Rosa, feito por Mirinha e Guilherme em Recife. Os dois trabalham com agroecologia, panc e extrativismo, onde compartilham suas relações com plantas não convencionais e soberania alimentar. Confira o vídeo que faz parte da série Empretecendo a Cozinha. 


Geleia da Fruta de Ora Pro Nóbis

Ingredientes

1 ou 2 xícaras da fruta, 1 xícara de açúcar, um pouco de água para bater e se tu gostar, umas pitadas de sal e temperos que tu preferir. Eu usei noz moscada, e acho que canela, cúrcuma, gengibre e anis estrelado podem combinar muito bem. Divirta-se

Modo de preparo

No liquidificador, bati as frutinhas com um pouco de água, lembre de tirar os espinhos, tá?! E não muita água pra não ficar muito líquido. Depois de bater eu me dei conta que poderia ter usado as frutas inteiras, então fica no teu critério. Depois de bater ou elas inteiras leve pra panela com açúcar e misture bem. Deixe ferver em fogo baixo até reduzir de volume pela metade, nessa hora que eu temperei. Deixei esfriar um pouco e coloquei em potinhos de vidro, fechei bem e fiz aquele esquema de deixar de ponta cabeça os potes na água fervida para vedar bem. O açúcar é um conservante natural então dura bastante. Aqui em casa o primeiro potinho já foi, o segundo abri ontem para tirar as fotos. 

Uma medida geral pra fazer doces de frutas é usar uma medida de frutas e metade da mesma medida de açúcar. A medida pode ser uma xícara, um copo, uma cumbuca, uma bacia, etc.


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