Curadoria Culinária Musical | Faixa Bônus Anelis Assumpção

Música, poesia e comida boa. É assim que acontece na Curadoria Culinária Musical do Cozinhe sua História. Nesta edição a Faixa Bônus apresenta uma receita de chuchu com molho branco vegetal, inspirada numa das faixas do disco Taurina da artista Anelis Assumpção

A Faixa Bônus é um gostinho da sessão Pagode, uma Curadoria Culinária Musical que os apoiadores do Cozinhe sua História recebem bimestralmente. Nesse pagode, quero boa música, comidinhas gostosas e uma poesia gostosa nos ouvidos. A ideia desse novo espaço é escolher uma música ou um disco e compartilhar uma receita que combine com esse sabor musical e para quem quer conhecer e saborear o que eu produzo aqui nessa escrevivência culinária eu deixo uma faixa bônus pra vocês.

Anelis Assumpção – Caroço Coração de Taurina

Taurina, paulistana, escalofabética, negra, mãe, cantora, compositora, criadora, mulher, etc. Coloque tudo no liquidificador e bata por três minutos. Pronto! Anelis Assumpção. Cantora e compositora brasileira, que navega pelo reggae, dub, afrobeat, samba, mpb, jazz e tantas outras vertentes negras da música.

Seu trabalho com 4 discos e o último, “SAL” composto e produzido somente por mulheres mostra a qualidade e determinação de uma artista como Anelis, herdeira do legado de seu pai, Itamar Assumpção.

Nesse PAGODE, recomendo pra vocês o álbum Taurina, terceiro disco de estúdio, lançado em 2018. A Curadoria Culinária Musical você pode ler, ouvir e comer sendo um novo apoiador do Cozinhe sua História no apoia.se.

Taurina fala sobre temperos, sabores, cozidos e assados, chás e experiências de vida como o feminino, a mulheridade, afetos, amores, morte. Sempre poetizando o cotidiano. Nessa faixa bônus ouça “Caroço”, e não se esqueça de ir na feira.

Taurina | “Caroço”

Ouça no YouTube

Lembra do filme “Como água para chocolate”? Onde a personagem cozinha e tudo que ela sente é mágicamente transferido para o que ela prepara. Se ela sente tesão e paixão os comensais sente um calor estupendo; se é tristeza as lágrimas vem à mesa e por aí se vai.

“Caroço” é uma música sobre desamor, sobre um término, um jejum de algo muito importante. Aquela comida ou relacionamento que nos alimenta tão bem, e que no fim, talvez por gula, ou por descuido, azeda e nos faz mal.

Falar de amor através de comida, fazer do caroço coração, descartar aquela panela velha sem tampa, compostar para fazer terra boa. Não só essa faixa, mas todo o disco Taurina faz com que a cozinha seja palco de vários momentos.

Eu sou apaixonada pela feitiçaria que Anelis produz, por conta disso, usar a palavra tão sabiamente que transforma tempero, sal, chás, flores, moela, e receitas em composições lindíssimas.

Anatomia do chuchu | Sechium edule da família Curcubitaceae

“Tua panela velha, tá vazia
Não cabe mais minha tampa
Comida boa que fazia
Virou adubo pro pasto

Da vida, coração
A vida é o coração
O pasto é o coração
Caroço é o coração”

Eu meditei por alguns dias ouvindo o disco e pensando qual delas escolher para essa faixa bônus. Minha preocupação sempre é com a conexão com a receita que a música me desperta.Pensei nas frutas que tinham caroço (pêssego e manga que estão na época), ou ainda no abacate que está brotando em cima da minha geladeira.

E na promoção de chuchu me veio o estalo: o caroço coração!

É no caroço que brota a vida desses alimentos, que os passarinhos muitas vezes, fazem questão de espalhar as sementes e caroços (de pitanga e acerola). Fiquei aqui pensando numa receita com Chuchu e lembrei de uma receita da minha avó.

E na sua casa, como fazem chuchu? (estarei curiosa aguardando seu comentário.

Chuchu com molho branco (vegetal) da Vó Beda

Chuchu em tempos de emergências climáticas é quase um artigo de luxo pra que tu cerca vazia. O preço dos alimentos tem aumentado e entre as promoções e a época do ano, chuchu faz bem para o corpo e para o bolso.

Embora muita gente vire a cara para o chuchu, ele tem um grande espaço no meu coração. Quase sinto o gosto quando fecho os olhos, do chuchu com molho branco da minha avó Beda. Ou ainda chuchu cozido com cebola picada e tempero verde, há quem goste de misturar com ovos cozidos também.

Acredite se quiser, eu fiz até chuchu empanado na farinha de milho na Air Fryer

Embora minha avó fosse do tempo que o leiteiro passava de caminhonete pelo bairro, minhas tias comentam que era comum Dona Beda fazer legumes com um “molho branco” feito somente com farinha, manteiga (gordura) e água, sem usar leite. Acredito que fosse uma forma de economizar.

Lembro de comer algumas vezes essa receita com brócolis, e não imagem aquele molho branco espesso, caldoso. Era um molho ralo, ainda assim bem temperado, com um pouco de alho e noz moscada. Até folheei o caderno de receitas dela pra ver se achava a receita original, no entanto não tive sorte. Deveria ser uma receita “de cabeça”, sem medida.

Quero que você confie em mim e tente cozinhar sem medida, “à olho”, usando todos os sentidos e estando presente e atento.

Ingredientes são: chuchu (1 ou 2) dependendo da quantidade de pessoas, farinha de trigo branca (2 ou 3 colheres), e uma gordura (óleo vegetal, margarina, manteiga, banha de porco)*, e é claro, água.

O modo de fazer é em duas etapas: primeiro descasque e corte o chuchu em cubos pequenos, e aproveite o caroço. Cozinhe em água com um pouco de sal até ficar bem macio. Ah, guarde a água do cozimento do chuchu, podemos usar no molho.

A segunda parte, ou melhor, a parte do molho, comece fritando um pouco de alho ou cebola se quiser. Aqueça a gordura e acrescente a farinha e misture bem, deixe cozinhar por um ou 2 minutos até desmanchar os grumos de farinha. Acrescente a água do cozimento aos poucos até diluir a farinha num creme espesso para mais líquido. Logo em seguida tempere e acrescente o chuchu e misture bem. Não esqueça da noz moscada e da pimenta que fazem toda a diferença.

Seja apoiador do Cozinhe sua História

Gostou desta pitada? Espero muito que sim! Aqui nessa escrevivência culinária quero partilhar mais sobre ancestralidade, identidade e cultura através da nossa alimentação. Com seu apoio posso dedicar mais tempo para a pesquisa com a segurança dos boletos pagos. Saiba porque o Cozinhe sua História existe e seja um apoiador.

Todas as faixas da Curadoria Culinária Musical são exclusivas para as bonitezas apoiadoras. Vocês podem acessar a página do Cozinhe sua História no apoia.se e conferir todos os conteúdos exclusivos anteriores quando finalizar o seu apoio.