The Bear (O Urso) é sobre uma categoria, entretenimento é extra

The Bear (O Urso) é uma série sobre um restaurante problemático que tem conquistado muitas premiações e fãs no mundo todo. Categorizada como comédia, tem tido desde a 1ª temporada boas críticas, a maioria especializada em TV. Críticas que pecam em refletir sobre a realidade de um restaurante, sobre setor da gastronomia e a vida de profissionais que não são vistos pelos consumidores. Esse texto é uma análise ou um relato crítico sobre minha percepção da série e experiência como cozinheira. The Bear (O Urso) é sobre uma categoria, e o entretenimento é extra (e muito lucro).
Aviso aos navegantes que esse texto terá spoilers e que será bem pessoal. Tudo bem se você não concordar comigo, mas quero muito saber a opinião de vocês nos comentários!
A série The Bear (O Urso) é uma série de comédia criada por Christopher Stoner, ambientada na cidade de Chicago (illinois, EUA). Desde 2022 acompanhamos a história de Carmen Berzatto (nosso ursinho Carmy), um jovem chefe de cozinha considerado o melhor chefe do país, que precisa assumir o restaurante da família: The Beef. Carmy precisa lidar com a perda do irmão Michael, que cometeu suicídio e deixou o restaurante falido e com uma equipe desestruturada como “herança”.
Sua primeira temporada estreou em 2022 nos EUA pelo canal FX e streaming Hulu, com a 2ª temporada em 2023 e a 3ª temporada, a mais recente, em junho deste ano. Você pode assistir os episódios pela Star+, disponível na Disney+ aqui no Brasil.
Duas temporadas de comédia dentro de uma cozinha caótica.
Vamos começar com um resumo comentado para vocês entenderem o contexto da série: na primeira temporada conhecemos o restaurante The Beef, uma lanchonete que serve sanduíches italianos e outros pratos que pertencia a família de Carmen e era tocado pelo seu irmão, Michael. Carmy encontra um restaurante falido, cheio de dívidas, funcionários acostumados ao sistema (the system) de Michael, e relutantes em aceitar as suas novas ideias e dinâmicas de trabalho da alta gastronomia.
A chegada de uma jovem estagiária, Sidney (nossa Syd), e as dificuldades com o luto conectam os outros personagens a uma saga de esperança, estresse, ansiedades e inseguranças num ambiente completamente caótico e insalubre. É inegável o primor da série em transportar o espectador para dentro de uma cozinha profissional e isso fez a série se popularizar tanto. “Yes, Chef!” (Sim, Chefe) é a marca registrada da série e provavelmente você ouviu pessoas dizendo isso aleatoriamente ou algum meme sobre.
Nessa primeira temporada eu tive muitos gatilhos, muitos mesmos. A ansiedade, o espaço de trabalho precário, a pressão da rotina corrida, a extrema competitividade, a falta de treinamento e organização são apenas gatilhos que todo o profissional da gastronomia se identificou vendo a série. Inclusive há relatos pelo twitter que muitas pessoas não conseguem assistir a série pela intensa atmosfera caótica. É como um burnout a cada episódio, só que dentro de uma cozinha.

Nem todo mundo acha latas de tomates premiadas por aí.
Não só de caos se vive em The Bear. Na primeira temporada (que ainda pode se chamar de comédia), a amizade e companheirismo que os personagens vão conquistando, além do empenho em tornar o The Beef num lugar melhor, com toda certeza é o que conquista quem assiste. Mas não se enganem, nem todo mundo acha latas de tomates premiadas por aí.
Já na segunda temporada vemos o restaurante The Bear tomando forma numa jornada onde Carmy e sua irmã Natalie (Sugar) decidem abrir um restaurante de alta gastronomia junto com Syd, na esperança de deixar o caos de The Beef para trás. Nosso ursinho Carmy, parece lidar melhor com o luto e com sua saúde mental, enquanto Syd vive o desafio e inseguranças de contar com novas responsabilidades e confiar na sua capacidade de ser a nova chefe no comando do restaurante.
Outros personagens florescem, como Tina que vai para uma escola de culinária profissional e Marcus, o confeiteiro que vai para Copenhagen na Suíça para aprimorar suas técnicas. Não posso deixar de citar Richie, o “primo” de Carmen, que é visto como um perdedor e problemático com dificuldades de aceitar as ideias do primo. Nesses 10 episódios vemos um espaço mais familiar e uma nova equipe nascendo e se aprimorando, assim como as inseguranças de uma aposta muito alta, já que quem financia a reforma do restaurante é o tio de Carmen e Natalie, tio Jimmy.
O final da segunda temporada nos entrega o dia de abertura do restaurante e nos presenteia com um dos melhores episódios da série, condensando o caos e a beleza de uma cozinha funcionando. Querendo ou não a série se sustenta na tensão e humanidade da cozinha.
Eu quero me aprofundar nos personagens mais a frente, então, seguimos com mais alguns spoilers.

Chegamos em 2024, e a terceira temporada da série foi lançada em 27 de junho, e numa tacada só maratonada por muitas pessoas, inclusive eu. Nesse momento The Bear está entrando nos eixos, e depois de uma noite de abertura complexa Carmy decide ir atrás de uma Estrela Michelin e as decisões que ele toma para fazer isso acontecer impactam diretamente na equipe que mal havia entrado nos eixos. ~Não negociáveis~
Considerada como uma temporada de transição e muitas análises dizendo que não agradou e não deu continuidade a trama. No fim das contas só “encheu linguiça”.
O caos continua, e o que antes era pela falta de organização, nessa temporada é pela rigidez e egotrip de Carmen. Ele se transforma em quem ele mais odeia: o Chefe de Cozinha tóxico (abusivo, violento, inescrupuloso, egóico e manipulador*) semelhante ao seu antigo Chefe. Esse fantasma aparece com mais frequência em flashes e memórias do nosso ursinho nessa temporada. Nos ajudando a entender melhor seu passado.
A grande maioria das críticas que eu vi e li normalmente se apegam nas questões artísticas da produção como: construção de roteiro, diálogos dos personagens, trilha sonora e os arcos narrativos. Confesso que concordo em alguns pontos com as críticas porém, a maioria delas parecem não entender ou avaliar que o contexto principal da série é um restaurante e seu funcionamento, os funcionários e as dinâmicas do dia a dia da cozinha. .
Entre as críticas de uma temporada devagar, que não resolveu ou desenvolveu grandes perguntas da temporada anterior, eu concordo. Foi uma temporada semelhante aos dias de pouco movimento em restaurante, onde nos organizamos, preparamos o mise en place, mas o ritmo acelerado não se desenvolve e assim o trabalho fica mais monótono e cansativo sem aquele caos. Os cozinheiros vão entender essa analogia, mas é bem provável que os telespectadores e críticos não tenham gostado desse sabor. No final das contas, essa temporada foi como ir a um restaurante instagramável ou de um grande chefe e achar comida sem graça nenhuma.
A arte está lá, o fascínio está lá, mas não é para o seu paladar.
Pare de venerar Chefes de Cozinha Tóxicos
O grande ponto da temporada é a postura de Carmy que além do luto, vive a luta contra o vício em álcool e cigarros e também as dores da auto sabotagem na administração do restaurante e também da sua vida amorosa. Vivendo um ciclo de auto flagelo contínuo, onde a busca pela perfeição é um reflexo das suas antigas experiências de trabalho. Ele se torna o chefe de cozinha tóxico que a maioria das pessoas não gostou de ver na série. No entanto, acho que as pessoas não estão preparadas para não aceitar chefes assim na vida real.
Você já trabalhou em um lugar assim? Você já imaginou que seu restaurante favorito ou seu chefe favorito é assim com seus funcionários? Meus camaradas da gastronomia com toda a certeza, sim.
Se você assistiu as temporadas da série documental “The Chef’s Table” (disponível na Netflix). pode perceber a intensa similaridade dos episódios onde chefes brancos europeus ou norte-americanos se “masturbam” nas suas próprias criações. Já nos pouquíssimos episódios com chefes mulheres, os relatos são sobre as intensas batalhas emocionais, morais e físicas para conseguir reconhecimento no ramo. São histórias de superação de violências, emancipação e caminho de auto amor e compaixão, além de crescer movimentando toda uma estrutura.
É claro que, sim, existem chefes mulheres tão tóxicas e problemáticas quanto chefes homens, mas se formos aqui tratar de gênero e raça o burraco é bem mais embaixo. Ainda quero escrever especificamente sobre Tina e Syd, as duas cozinheiras e mulheres racializadas da série. Já adianto que trarei as incríveis reflexões da Taís Machado, no seu livro “Um pé na Cozinha”.
Em meio ao caos, tensão e rigidez de Carmy também é possível conhecer melhor seu passado, e nesse caso os episódios são primorosos, delicados, e artísticos. Além do primeiro episódio “tomorrow” , que mostra a jornada do nosso ursinho ao cargo de chefe de cozinha, o episódio “napkins” nos abraça contando a história de Tina, sua chegada ao The Beef e sua relação com o “jeff” Michael (irmão de Carmy). Esse episódio especialmente marca a estreia de Ayo Edebiri, a atriz que interpreta a personagem Syd, como roteirista e diretora.

Voltando a nossos ursinhos. A realidade não é como no Masterchef.
Das críticas gringas e especializadas que eu li sobre a série, alguns artigos do jornal The New York Times tem pontos importantíssimos para botarmos mais água nesse feijão. Quando digo que The Bear é sobre um categoria e não sobre exatamente sobre entretenimento ao nosso bel prazer, o comentário de Tajal Rao (The New York Times) reflete bem a potência da série em nos mostrar um restaurante nu e cru (não se preocupe com a salmonela nem a vigilância sanitária).
“If you were following along, “The Bear” didn’t just get food and cooking right. It got Chicago right, it got the culture of the workplace right, it got the complexity of grief right, it got the devastation of addiction right, it got the beauty of good hospitality right — along with the tortured ache that can lurk behind it.”
Traduzida por mim: “se você está seguindo, The Bear não só acertou com a comida e a culinária. Acertou mostrando Chicago, acertou com a cultura do ambiente de trabalho. Acertou na complexidade do luto e a devastação do vício, e na beleza da boa hospitalidade – assim como a tortura que está por trás dela.”

Embora a gastronomia brasileira tenha dinâmicas diferentes em comparação a gastronomia dos Estados Unidos, onde se passa a série, temos aqui muitos problemas em comum.
Restaurantes antes de tudo são tocados por pessoas. São auxiliares de cozinha, lavadores de louça, cozinheiros, padeiros, confeiteiros, chefes e subchefes – que são cargos dentro da hierarquia da cozinha (e não diplomas de um cursinho online que você acha por aí vendido por um influenciador digital). Em The Bear, aprendemos a enxergar essas outras peças da porcelana schmidt da cozinha, onde esses outros funcionários fazem da feijoada um sucesso, mas na maioria das vezes só o chefe leva crédito, mesmo que tenha adoecido todo mundo ao seu redor.
A gastronomia no Brasil tem uma herança colonial, onde o trabalho pesado, exaustivo e extremamente perigoso da cozinha não é valorizado. Sendo assim, você irá trabalhar por um salário mínimo ou menos como auxiliar de cozinha e ganhe R$3.000 se for cozinheiro a mais tempo. No texto “valorizem as profissionais da gastronomia”, no site da Crioula | Curadoria Alimentar escrevi um pouco mais sobre o setor e a urgente necessidade de valorizarmos esses profissionais!
Onde a série imita a realidade é mostrando fielmente os problemas e vícios. Temos o alcoolismo e o cigarro de Carmen, assim como a ansiedade e crises de pânico onde vemos Syd adoecer ao longo dessa temporada. Natalie (Sugar) irmã de Carmy, lida com a parte administrativa e vê o quanto bancar um restaurante tem um custo altíssimo, seja pelos insumos como pelo custo dos funcionários e da infraestrutura.
Todas as vezes que alguém me perguntou se eu abriria um restaurante ou “algo meu” eu disse com todas as letras, NÃO!!! Sim, com três exclamações.
Além do vídeo em café, álcool e cigarros, temos uma péssima estrutura e pessoas quebradas.

Na primeira temporada vimos o decadente The Beef, onde a sujeira, bagunça e a presença ou falta de um “sistema” sucumbia o restaurante ao caos, insalubridade, e o risco à saúde dos funcionários, dos clientes e de todo o ambiente. Vimos Tina e Ebra relutar contra as mudanças propostas por Carmy – esses dois em especial, Pessoas de Cor (POC) e com mais de 45 anos (podemos falar aqui de etarismo). Além de Tina e Ebra que não tinham formação nem treinamento adequado, vimos Marcus e sua fixação por donuts e sobremesas crescer quando foi apoiado e estimulado pelo Carmen,, mas sabemos que antes disso ele pipocava em redes de fast food.
Primo Richie é o exemplo clássico do “empreendedor” que acha que sabe administrar um restaurante, mas no final das contas só afunda o barco e pode sim estourar a panela de pressão como vimos naquele magnífico episódio “Review” na primeira temporada.
No comentário de Tejal Rao (The New York Times) vimos que
“It also got that the chef wasn’t the only important character in a restaurant, and slowly expanded its story lines into the emotional lives of the other people prepping, washing dishes, scrubbing walk-ins and fixing toilets through dysfunction and disaster.”
Traduzindo “[a série] também mostrou que o Chefe não é o personagem mais importante em um restaurante e lentamente expandiu seu enredo para os aspectos emocionais das outras pessoas que preparam a comida, lavam a louça, esfregam o chão e consertar o encanamento através das suas disfuncionalidades e desastres”

Humanidades
Além do protagonismo de Carmen, que é o jovem chefe de cozinha com dilemas pessoais e na jornada de não perpetuar as violências que sofreu – um aspecto muito humano e narrativa importantíssima para a série, temos Syd. Ela traz aqui um aspecto onde me conecto muito: a da jovem cozinheira apaixonada pela gastronomia que busca aprender, criar e conquistar uma estrela, porém se depara com a realidade hostil, racista, sexista e precária do setor.
A história de Tina e Syd se encontram como duas gerações e sonhos diferentes que no Brasil se assemelham as mulheres negras (que sempre estiveram na cozinha) mas que não recebem o reconhecimento, nem mesmo o tratamento e muito menos o salário de jovens profissionais da gastronomia recém saídos da faculdade. Ebra, Marcus, e Gary mostram a realidade de homens negros, que também são quase invisíveis no setor. Ainda há Manny e Angel, os lavadores de louça que quase não vemos. Nos EUA, esses cargos são normalmente ocupados por POC, muitas vezes imigrantes não legalizados.
São camadas e camadas de questões que perpassam o setor da gastronomia. São atores envolvidos: agricultores, empresários, chefes de cozinha, auxiliares, atendentes, faxineiros, etc, etc, etc.
Acredito que a percepção e relação espectadores/clientes com a gastronomia e os programas de televisão tenham sido altamente influenciados pelos programas culinários. O frenesi sobre a sérietambém acontece nas redes sociais. No entanto, pouco sabemos ainda se vai mudar a percepção do público sobre os profissionais da área realmente.
The Bear é sobre uma categoria, entretenimento é extra e muito lucro
Para o setor da gastronomia em Chicago a série fez muita diferença, inclusive para o restaurante Mrs. Beef, que inspirou Christopher Stoner na criação da série. Além dos restaurantes e a gastronomia local estar mais movimentada, tudo vira mercadoria e padrão de consumo Como os lenços e bandanas da Syd, as jaquetas de Carmy e os inúmeros itens de cozinha decorativos estão se tornando sonho de consumo de muitos espectadores.
Sou pessimista. No fim das contas, é só uma série. E eu duvido muito que os profissionias da cozinha consigam reconhecimento de fato.
Seja no prato feito da esquina ou no menu degustação do seu chefe branco com Estrelas Michelin, você não quer saber quem cozinha pra você. Talvez seja o meu pessimismo falando mais alto. The Bear é uma série espetacular porque te faz amar e idealizar Carmen Berzatto, faz você ter vontade de preparar o Omelete com Ruffles que a Syd preparou, faz você se sentir um crítico gastronômico de instagram.
No fim, é sobre a gourmetização e a tentativa de visibilidade/representatividade, que só alimenta ainda mais nossa individualidade e necessidade de consumo. Eu que trabalho há 12 anos na área, e por de 5 anos trabalhei em cozinhas profissionais. Ficava mais de 10 horas de pé, lavava pilhas de louça, tive queimaduras séries, lavei o chão de joelhos por menos de um salário. Também formei “uma família” com os colegas de trabalho, inspiração, alegrias, muitas piadas, o vício em café, a mania de organizar a geladeira (sem etiquetas). E um amor pela alimentação e pelo cozinhar.
Comer é política, comer é cultura, comer é história. Saio bem alimentada dessa série, precisando de um chá de carqueja pelo amargor da 3ª temporada e com desejo de quero mais.
Assista The Bear, defenda o setor da gastronomia e pare de dar palco pra gente escrota em qualquer profissão.
Ah, um cafezinho amargo: os irmãos Fak são os piores personagens dessa série. Sigo esperando Ebra retornar om sua história, Carmy cair na realidade, Syd cuidar da sua saúde e Tina e Marcus ganharem mais reconhecimento e Richie e Carmen se acertarem. Uma Estrela não vale a nossa saúde.
Referências
Tejal Rao – The New York Times | Why Do We Love ‘The Bear’ So Much?
Aaron Timms – The New York Times | ‘The Bear’ Wants You to Stop Worshiping Toxic Chefs
James Poniewozik – The New York Times | ‘The Bear’ Season 3: Tastes Great, Less Fulfilling
Marvin Krislov – Forbes | “The Bear” está de volta: veja as lições de carreira mais valiosas da série
Roberto Honorato – Plano Crítico | Crítica | The Bear – 3ª Temporada
Wikipedia | The Bear (em inglês)
Isabela Boscov | “O Urso” 3ª temporada: lamento, chef, mas a receita desandou
Jurandir Gouveia | Não é sobre o protagonista
Entre MIgas | THE BEAR (O URSO): A 3ª E PIOR TEMPORADA | Análise Honesta
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Natália, como é bom ler alguém que já esteve dentro de uma cozinha profissional analisar criticamente a série. Eu, que permaneci 3 anos dentro de cozinhas profissionais, na confeitaria, me senti representada em várias cenas e, como você bem disse, memórias boas e ruins foram despertadas através delas. Confesso que sorri quando você escreveu sobre a mania de organizar a geladeira, eu fazia isso quase diariamente, tentando escapar de crises de ansiedade. Para mim, a cena que mais me transportou para os meus anos de cozinha foi a que Carmen limpava as frestas do fogão e das bancadas com um pequeno palito de madeira. Junto à organização da geladeira, eu usava palitos de dente para limpar as frestas das bancadas em situações de muito estresse – que, diga-se, eram comuns. Obrigada pelo texto!
Que alegria receber teu comentário. Realmente, o ramo da gastronomia é complexo, pra dizer o mínimo. E o adoecimento de profissionais é real. A organização também foi uma forma de lidar com o estresse pra mim. Eu levei esse hábito da organização para os meus alunos e colegas de profissão. Uma cozinha otimizada e organiza faz muita diferença no nosso dia a dia, principalmente pra quem está aprendendo a cozinhar e quer ter uma rotina. É claro que, muitas vezes podemos passar dos limites, como o Carmi. Acho que o público está se identificando com a série por ela tratar de alguma forma da ansiedade. Por outro lado, como comentei no texto, acho que o público esquece que somos reais, e o estresse na cozinha é real. Enfim, ansiosa para 4ª temporada. Obrigada pelo comentário.