Curadoria Culinária Musical | Faixa Bônus Corinne Bailey Rae
Música, poesia e comida boa. É assim que acontece na Curadoria Culinária Musical do Cozinhe sua História. Nesta edição a Faixa Bônus apresenta uma receita Corn Bread(pão de milho), inspirada no disco Black Rainbows da artista Corinne Bailey Rae
A Faixa Bônus é um gostinho da sessão Pagode, uma Curadoria Culinária Musical que os apoiadores do Cozinhe sua História recebem bimestralmente. Nesse pagode, quero boa música, comidinhas gostosas e uma poesia gostosa nos ouvidos. A ideia desse novo espaço é escolher uma música ou um disco e compartilhar uma receita que combine com esse sabor musical e para quem quer conhecer e saborear o que eu produzo aqui nessa escrevivência culinária eu deixo uma faixa bônus pra vocês.
O Arco-íris da Corinne Bailey Rae| Black Rainbows e o Stony Island Arts Bank
Corinne é uma artista britânica de jazz, soul e r&b. Vocês devem lembrar dela lá do início dos anos 200, com a música Girl Put Your Records On.. Eu logo me identifiquei porque eu era uma adolescente cheio de sonhos e desejos e convenhamos, essa música é um aconchego pra quem era adolesncente nos anos 2000.
Além disso, anos depois, em 2010 quando Corinne lançou seu segundo álbum, The Sea, eu pesquisei mais sobre ela e descobri que ela também é uma pessoa negra mestiça/parda. Seu pai é das Ilhas de São Cristóvão no caribe e sua mãe, britânica. Lembro de assistir ao clipe de Paris Nights/New York Mornings e encontrar referências estéticas, queria o cabelo igual o dela, já que eu sempre tive dificuldades de achar um cabeleireiro que acertasse o meu cabelo.
Corinne é uma grande referência pra mim, tanto nas letras quanto nas melodias. Foi com ela que aprendi a ouvir jazz, soul music, e isso impactou muito muito minha vida.
Um disco sobre sankofa
Em setembro Corinne lançou seu 4º disco, Black Rainbowns, disco esse inspirado no museu Stony Island Arts Bank em Chicago nos EUA. Esse museu é um museu de salvaguarda da história negra de Chicago e da cultura afro americana no país. Todas as músicas foram inspiradas de alguma forma em obras, pinturas, reportagens de jornal, fotos, e materiais do museu.
Com toda a certeza esse é o álbum onde a Corinne conecta e explora sua negritude, sua ancestralidade e suas memórias. Um disco manifesto, onde Corinne explora suas vertentes musicais como o punk rock, a psicodelia, baladas e jazz da melhor qualidade, com uma excelência e elegância notória.
Não consegui escolher músicas, em todo caso, dê mais atenção para “a spell, a prayer”, “red horse”, “pink velvet sky”, “erasure”. Para degustar fiz uma conexão Chicago, Caribe e Inglaterra, trazendo elementos da diáspora afro-americana, e o chá inglês. Descobri que há um movimento de pessoas afrodescendentes e africanos no Reino Unido divulgando e buscando as referências e contribuições africanas na culinária desses países, mas não tive tempo de aprofundar mais.
Bolo de milho | Corn Bread | Cuscuz
O milho é um alimento latino, das tradições culinárias indígenas e que com a confluência com os povos africanos fez do milho também uma estrela na África e em todas as suas diásporas.
Aqui no Brasil o bolo de milho ou bolo de fubá é patrimônio das festas juninas, presente nas quitandas e quitutes de minas gerais e em todas as regiões do país, servido com um bom café. Existem variações nas receitas: aquelas feitas com milho verde cozido, outras com fubá cozido e a que eu sei preparar, mais simples, feita com farinha de milho (e trigo) sem cozimento prévio.
Lembrando que o museu que inspirou o disco da Corinne é em Chicago, uma cidade com uma comunidade negra significativa, marcada pela violência e pobreza, e resistência. Nos EUA, é muito comum na culinária soulfood na costa leste do país (região da Carolina do Sul, Geórgia, Louisiana, etc) o Cornbread, que numa tradução livre é um pão de milho.
Nas receitas que vi, ele é levemente doce, e algumas nem vai açúcar; é um pão com textura de bolo.
E eu não poderia deixar de trazer aqui o Cuscuz que foi meu café da manhã nos dias que estive em São Paulo, final de setembro (2023). O cuscuz é puro suco de nordeste, e adentra o sudeste e o centro oeste do Brasil por conta da presença de nordestinos nesses territórios.
Uma receita que tem origem no norte da África e também influencia as culinárias do oriente médio. Além do milho, outros grãos eram e são usados no preparo de pratos semelhantes como o cuscuz marroquino e suas variações feitas de trigo, mandioca, tapioca, arroz, entre outros.
Eu encontrei essa receita de Cornbread Vegano, semelhante a minha receita de bolo de milho no blog Make it dairy free, um blog de receitas veganas muito, muito, muito bom. Vou traduzi-la para vocês:
Ingredientes: 1 xícara de farinha de milho, ¾ xícara de farinha de trigo, ½ xícara de açúcar mascavo, ¼ colher de sopa de sal, 1 ½ colher de sopa fermento químico, ½ colher de chá de bicarbonato de sódio, 1 ½ xícara de leite vegetal, 1 ½ colher de sopa de vinagre de maçã, ½ xícara de purê de maça, 6 colheres de sopa de manteiga vegetal (margarina, ou óleo vegetal neutro),
Modo de preparo:
Pré aqueça o forno a 200ºC, e em seguida prepare o buttermilk (na confeitaria brasileira é semelhante ao leite coalhado/leitelho). Nessa preparação você vai misturar o leite vegetal e o vinagre de maçã e deixar descansar por 10 minutos. O leite literalmente vai talhar (se você usar leite de coco ou leite de castanhas/nozes/amêndoas que são mais gordurosos o resultado vai ser melhor).
Unte uma assadeira de metal (20×20 ou 23×13) e reserve. Misture todos os ingredientes secos numa vasilha, e em seguida adicione na sequência os ingredientes líquidos (buttermilk, purê de maçã, manteiga vegetal). Asse por 25-30 minutos ou até o palito sair limpo.
Normalmente os afroamericanos consomem o cornbread junto das refeições salgadas como almoço e jantar. Podem comer junto com couve ou vagem refogada. É comum também com feijão, ensopados, purê de batata e pratos como o jambalaya (arroz com diversas carnes e frutos do mar). Ou ainda o gambo que é um ensopado semelhante a nossa feijoada. Apesar do cornbread ser característico do sul dos estados unidos, muitas outras comunidades negras nos EUA consomem esses pratos.
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